sábado, 5 de novembro de 2011

Estação primavera






No mês de setembro, por volta do dia 20, uma energia prodigiosa movimenta-se na natureza, impulsionando todas as formas de vida a assumirem uma dinâmica de expansão e diversidade. Numa profusão de luz, cor, odor e formas o poder do invisível se manifesta e salta aos olhos. Nos campos, a visão é paradisíaca; nas cidades os jardins não têm a mesma exuberância, mas se mostram claramente regidos pela beleza, que se expressa no verde novo e no espírito daqueles que estão abertos e sensíveis ao impulso que emana da natureza e inspira os homens. É o irromper do movimento poderoso gerado no repouso do misterioso inverno, num período de gestação e alquimia que deu a luz à primavera. O inverno guardou a semente da primavera, em silêncio, nutrindo-a lentamente no reino invisível, com a energia concentrada no solo, oculta sob a terra quando, a energia vital desceu da copa das árvores para o tronco e por fim para as raízes. O obscuro, inexplicavelmente à compreensão humana gerou o luminoso, o recolhimento gerou a expansão,  do repouso ao movimento o yin gerou o yang.



Os mecanismos da natureza escapam muitas vezes à lógica humana e o milagre ocorre a despeito dos incrédulos, e lança seus prodígios indistintamente sobre o sábio e o homem comum. A diferença está na forma de recebê-lo por este ou aquele. Daí a importância de estarmos despertos para contemplarmos as coisas a sua própria luz e a luz do todo, para que sejamos favorecidos pelas emanações do céu e da terra e estarmos em unidade com o universo. Dar a devida importância a isto é dar importância à própria vida. Não podemos ignorar nossa relação com a natureza e seus ciclos, o homem sempre esteve sob sua influência direta ou indiretamente; agir de acordo com eles é viver mais próximo do poder que a tudo move, da harmonia original de onde tudo vem e para onde tudo retorna...



A energia da primavera é de expansão, do centro para as extremidades, o que sugere doação, abundância, generosidade. Segundo a medicina tradicional chinesa, das fases da vida ela corresponde ao nascimento. As flores, que são o seu símbolo, são os órgãos sexuais das plantas, que convidam pássaros e insetos a se deleitarem com seu néctar, seduzindo-os com suas formas atraentes, odores e cores, assim como o fazem os seres humanos e os animais que se ataviam quando querem atrair seus parceiros.



Através deste mecanismo e da ação dos ventos, ocorre a fecundação. Por trás de sua estratégica exuberância e sensualidade, a primavera guarda a fertilidade que se revelará nos frutos para a próxima estação, pois na base das flores se esboça, ainda indefinido, o fruto.



Os atributos da natureza são poderosos porque encerram sabedoria em sua manifestação, a exemplo da beleza que exala da primavera, que difere da beleza que o homem forja. No primeiro caso é naturalmente imbuída de graça porque sua forma não é vazia, porque tem um rico conteúdo implícito, que confere à beleza a utilidade e, um desígnio vital, expressão da inteligência divina que transcende a própria espécie na qual se manifesta, para favorecer outras. É por isso uma beleza dadivosa e espiritualizada, sempre abundante porque é generosa. No homem, na maioria das vezes, a beleza se dá a serviço dele mesmo, dos interesses do seu ego, como alimento à sua vaidade. Falta-lhe verdadeira graciosidade porque sua forma é destituída de conteúdo e, muitas vezes, sua beleza é como um ardil aos outros e uma armadilha para si mesmo, pois, quando é tocado pela marca do tempo e a aparência se deteriora, não dispõe de recursos internos, porque sob a ilusão transitória da juventude não cultivou no conteúdo os valores essenciais do caráter e do espírito, e cai em descontentamento, porque o fruto não foi formado com a essência e por isto não alimenta. É como uma flor que não se cumpriu, um corpo que não se uniu a sua alma.



O Dragão Verde



Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, a primavera é simbolizada pelo Dragão Verde, cuja direção é o leste. A energia que a movimenta é o vento, o sentimento a ira, o fenômeno o trovão, o horário das 23h às 3h. É regida pelo elemento madeira, cujos órgãos e canais energéticos associados são o fígado e vesícula biliar, dos orifícios correspondem os olhos, dos tecidos os músculos e tendões, dos líquidos o sangue. Na natureza rege a seiva, no homem o sangue.

De acordo com estas correspondências, alguns cuidados devem ser observados para a manutenção da saúde durante a estação e a preparação para a próxima, que é o verão, o Dragão Vermelho, regido pelo elemento fogo. Se não nos cuidarmos e não nos nutrirmos adequadamente na primavera, atingiremos o verão como uma madeira seca que entrará em combustão gerando um “fogo falso” responsável por calores e vapores doentios que causam nódulos nos seios, dores de cabeça, irritação, intolerância, arrepios, males do fígado e da vesícula.

Devemos entrar na primavera como quem acaba de despertar, se espreguiça, vai soltando o corpo e o espírito com movimentos lentos e suaves, até que no decorrer, com a definição da estação, nos tornemos mais dinâmicos e o nosso calor corporal se identifique com o calor externo. Não devemos nos livrar precipitadamente dos agasalhos (especialmente nas regiões mais frias), para não nos expormos aos elementos nocivos que intercalam a estação (o que os chineses chamam de vento perverso).



Da mesma forma, devemos ser gradativos na mudança da alimentação, que de quente e mais pesada do inverno transita para o morno mesclando ao suave e mais fresco (especialmente nos países mais quentes). Deste modo, devemos evitar a ingestão de alimentos gordurosos, pesados e condimentados, ser parcimoniosos  com as castanhas, laticínios e também diminuir a ingestão de carne vermelha. Os alimentos carregados congestionam a energia do fígado, que por isso não eliminará as toxinas e o sangue não se purificará; desta forma, os órgãos internos não se revitalizam. Acrescente à sua dieta mais vegetais verdes cozidos (se possível no vapor) e algumas saladas. Será também benéfico o uso de ervas estimulantes, amargas e azedas (como genciana, dente de leão, boldo etc.), que além de limpar o sangue e tonificar o fígado, sintonizam o organismo com o crescimento da primavera, preparando-o para o verão.




“Um fígado saudável é como uma jovem árvore crescendo tão forte quanto flexível. A energia é límpida, flutuante e solidamente enraizada. Dessa forma, o fígado é o responsável pelo movimento suave da energia através do corpo, o que dá graça aos nossos movimentos e limpa e armazena o sangue.

Quando o fígado adoece, ele fica suscetível ao movimento irregular chamado vento. Ele causa tensão, espasmos, dores de cabeça, alergias, convulsões, coceira e dores que mudam de lugar. À medida que o fígado fica congestionado, pode resultar em ira, frustração, irritabilidade, enrijecimento da nuca e dos ombros e hipertensão.”



O uso prolongado dos olhos é contra-indicado, especialmente no horário correspondente ao elemento madeira, das 23h às 3h, horário do fígado e vesícula biliar, porque isto pode enfraquecer a energia do movimento da madeira, e dispersar a energia do espírito (os olhos são as janelas do espírito) .



Como a primavera é uma estação onde as aparências se evidenciam e tem forte apelo, há que se ter certo cuidado, pois, onde o espírito é assaltado pelos olhos e seduzido pelos sentidos, não se tem a visão do coração e o espírito tende a vagar por caminhos que não são os seus. Na primavera, a alegria interior se manifesta e traz contentamento, mas o homem em geral a confunde com divertimento e isto traz dissipação.



Há no homem uma forte tendência a se deixar guiar pelo apelo dos cinco sentidos, este é um dos seus grandes desafios. Por outro lado, o fígado abriga a alma e as faculdades espirituais, o que pode nos favorecer, trazendo luminosidade e força. A prática da meditação é por isso muito recomendável na primavera, para despertar o potencial criativo, uma vez que é uma estação favorável ao brotar de novas idéias e atividades, e o desapego aos padrões rígidos e comportamentos ineficientes. O cultivo do vazio que a meditação proporciona prepara o espírito para a manifestação do que é novo. Se você tomar os devidos cuidados, a primavera será uma estação benéfica e prazerosa; cultive os atributos desta estação luminosa, pratique dentre eles a generosidade e colha as flores nos sorrisos e contentamentos a sua volta e você poderá sentir o verdadeiro significado do que é riqueza e prosperidade.



O mestre Liu Pai Lin sempre disse que desde que nos cultivássemos sempre haveria a possibilidade de uma nova primavera.






“A maior virtude da natureza é fazer brotar vida nova.”

Mestre Liu Pai Lin





Ronaldo José Fernandes

Professor de Tai Chi Chuan, Kung Fu, Espada Tai Chi, Pa Kuá, Espada Pá Kuá, Técnico em Reabilitação Geral, Massagista, Acupunturista.

Discípulo direto dos mestres Liu Pai Lin e Liu Chih Ming

Tel. 42241433  cel. 986186354

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tai Chi Pai Lin página inicial


Tai chi pai lin

Movimento, saúde, harmonia




          O Tai Chi Chuan e especialmente o estilo Pai Lin é uma arte marcial interiorizada que trabalha mais com a energia vital do que com a força física, promove o fluxo livre de sangue, líquidos internos e energia pelo corpo proporcionando saúde e bem estar. O mestre Liu Pai Lin foi um exemplo vivo do poder que o Tai Chi promove na vida do ser humano pois tendo vivido até os 94 anos, manteve até os seus últimos dias neste plano o espírito jovial, disposição e  lucidez invejáveis, praticando o Tai Chi  e trabalhando todos os dias, além de estar sempre administrando cursos e palestras em São Paulo, em várias  outras cidades e estados, e também em outros países.

          O mestre deixou um legado inestimável que se estende através do trabalho feito pelos professores por ele formados, atuando em diversos parques e postos de saúde, favorecendo um grande número de pessoas.

          O estilo Pai Lin deriva das linhagens do norte da china e mantém as bases originais mesmo tendo se adaptado ao estilo de vida do ocidental e, apesar de ter um forte conteúdo marcial, enfatiza mais o aspecto terapêutico e filósico pois segundo o mestre a energia que o Tai  Chi manifesta é muito preciosa para ser desperdiçada na luta e seria mais inteligente utilizá-la para promoção da saúde  e harmonia espiritual, servindo também de apoio nos atendimentos terapêuticos como a massagem e acupuntura.

                Os treinos consistem de dinâmicas para o alongamento da musculatura, desbloqueio das articulações, relaxamento da rede nervosa, meditação, treinos de captação, manifestação e circulação de energia ( chi kung ). Além de treinos para todos os sistemas orgânicos o Tai Chi trabalha um outro aspecto que é o da  arte marcial, que por sua vez promove também a saúde enquanto lida com as bases tradicionais das artes marciais chinesas, que além de tratar dos aspectos da luta lida também com os aspectos filosóficos e da harmonização do caráter.








                 Alguns dos treinos para saúde dentro do estilo Pai Lin, dentre outros são :



- auto massagens diversas

- treinos para os órgãos internos

- treinos para as articulações e alongamento muscular

- treinos de energia ( chi kung ), básico, intermediário e avançado.

- treinos respiratórios

- meditação taoísta    

- treinos para os tendões         









Formas marciais



                                                              



-  Tai Chi de 37 movimentos

-  Tui Shou ( aplicação dos movimentos do Tai Chi Chuan )

-  Tai chi longo de 108 movimentos

- Pá Kuá oito palmas, cinco elementos e 64 movimentos e suas aplicações curtas.

-  Tuei lian ( aplicações do Pá Kuá numa seqüência longa – Toi chá )

-  Pá Kuá com espada e espada dupla

-  Pá Kuá com leque   

-  Tai Chi Espada


Locais para aulas:

  Tai Chi Chuan

- Parque do Ibirapuera:

  Quarta feira das 8:00h às 9:00

- Museu do Ipiranga:
 
   Terça feira das 9:00 às 10:30

- Parque Celso Daniel (antigo Duque de Caxias)

   Quinta feira das 18:00h às 19:00h

- Parque Vinicius de Morais (Morumbi)

 Segunda feira das 11:00 às 12:00
  
   Espada Tai Chi

- Parque do Ibirapuera

  Quarta feira das 10:00h às 11:00h

- Cemetrac (Liberdade)

  Sexta feira das 9:30h às 10:30

- Parque Vinicius de Morais

  Segunda feira das 9:30 às 10:30

maiores informações no telefone (11) 42241433 - (11) 986186354, ou contatos pelo email
ronaldotaichi@hotmail.com



 A prática do Tai Chi



          A prática do Tai Chi vem se disseminando e   ganhando   visibilidade   na   medida   em que seus benefícios se tornam  evidentes  por um  número cada vez maior de pessoas, de tal forma que  cada vez mais vem sendo recomendado pelos médicos, especialmente em  casos  relacionados  à   postura, problemas de coluna e estresse. Atualmente o Tai Chi Pai Lin desenvolve um trabalho significativo nas unidades de saúde contando com o depoimento de inúmeras pessoas que passam a melhorar em casos de hipertensão, problemas respiratórios, dentre outros.



         Contudo ao se envolverem com a prática as pessoas acabam por perceber que os benefícios são muito mais abrangentes, tanto no que toca a sua ação no corpo, quanto no que se refere aos aspectos mentais e emocionais e num aspecto mais elevado a influência recebida pelo próprio espírito do praticante que passa a conceber as coisas de uma maneira completamente nova, se tornando indivíduos mais éticos e compassivos, no sentido mais amplo da palavra, além de canalizarem melhor sua energia numa direção menos dispersiva do que propõe a rotina  insana dos que moram nas cidades, especialmente.  Com isto esta prática se torna um verdadeiro tesouro para pessoas de qualquer profissão, idade, credo, ou nível social, porque trabalha com o que é essencial para a vida em si, independente das opções deste ou daquele, assim como na natureza não existe preferência por este ou aquele ser, mas tudo ocorre para que a vida na sua expressão mais ampla funcione em prol da unidade, respeitando e somando as diferenças.





ESPADA TAI CHI


O estilo Pai Lin Tem uma tradição com o treino da espada taoista,( tanto que o próprio símbolo da linhagem tem a espada atravessando o yin e o yang e os oito trigramas do I Ching ) a espada alquímica , o metal que gera a água. que por sua vez está ligada aos rins e portanto à vitalidade, o que quer dizer que acima do aspecto da luta, ela como treino é fonte de saúde, além de representar o corte das emoções negativas que são principalmente a ira, a ignorância e os desejos desnecessários. Isto confere a espada um cunho energético e espiritual, que na sua unidade , busca a harmonia da mente, do corpo e do espírito. Portanto o treino da espada é muito poderoso e traz modificações significativas para o praticante em todas as dimensões, desde que observado que este é um treino do Tai Chi e deve ser executado de acordo com os seus princípios. Com isto é aconselhável que o indivíduo aprenda primeiro o Tai Chi para que ao iniciar o treino com espada já tenha as bases marciais, energéticas e filosóficas que regem esta prática. Contudo muitas pessoas inicialmente optam pelo treino com a espada antes de aprender o Tai Chi, porque o apelo visual é muito forte, nestes casos é essencial que tenha um professor que saiba conduzir o aprendizado num sentido que não seja dispersivo, para não causar danos físicos ou energéticos, procurando levar o praticante numa linha em que este acabe por entrar em contato com a base original situada no Tai Chi.

O treino com a espada Tai Chi encerra em si mistérios e revelações que podem ser vislumbrados num estágio mais avançado, dependendo da dimensão emprestada pelo praticante que , mesmo desconhecendo seus princípios e significados mais profundos, estes acabam por se manifestar através de seu espírito. A condição essencial para isto é a pureza do seu coração e de sua intenção.

Esta compreensão é atingida ao longo do tempo e, como em todo treinamento verdadeiro, através da disciplina, da reverência interna e dedicação; a partir das quais se desenvolve a sensibilidade, habilidade e manifestação do espírito, e desde que o praticante esteja atento e faça as devidas analogias, são lançadas luzes sobre aspectos pessoais a serem trabalhados, que se evidenciam durante os movimentos e posturas, dificuldades e facilidades. Mesmo em situações anteriores e posteriores aos treinos.

Grupo Espada Tai Chi em Brasília

O aspecto místico, o lendário, o extraordinário, associados ao caráter poético, são ingredientes inseparáveis das antigas civilizações, em especial a chinesa, e mesmo hoje o homem não consegue se desvencilhar deste elo. As práticas taoístas são permeadas de simbolismos que sugerem a ação mágica da natureza sobre o espírito humano, os próprios nomes dos movimentos do Tai Chi, Pá Kuá e especialmente a espada Tai Chi, sugerem um mundo de sonho e poesia, de uma dimensão que transcende o sentido comum. Porém ao nos aproximarmos da origem destes signos vamos nos deparar com o aspecto prático do sonho ao entrarmos em contato com uma realidade incomum que trata de aspectos fisiológicos ( linfas, liquors, sangue, alquimias metabólicas, psicosomatismos, circulações , ciclos, pulsações,… ) e energéticos ( pontos e canais de acupuntura, pequenas e grandes circulações energéticas,… ) energéticos que mobilizam fisiológicos, virtuais que mobilizam densos, sopros que põe estátuas em movimento. Ao ser humano o sonho é inerente e por vezes necessário, ele conduz à mão de Deus que é a mão que através do anjo conduz e comanda a espada, é o elo entre o intuito e o ato, a parábola de Cristo, o paradoxo do Tao, a metáfora que revela a essência.




” Sonho da Borboleta “

Sonhei que eu era uma borboleta,

a esvoaçar aqui e ali.

Agia somente como borboleta,

sem ter consciência

de ser um indvíduo.

Depois, dei comigo acordado

outra vez no corpo.

Era eu uma pessoa

a sonhar que era uma borboleta?

Ou sou uma borboleta

a sonhar que sou uma pessoa?

(Chuang Tzu)

O verso de Chuang Tzu reflete bem o espírito Zen, quando o indivíduo se torna um com o que pratica. O Zen é um conhecimento interior onde o domínio não pertence ao intelecto, mas à ação intuitiva, gerando e desenvolvendo o potencial interno através do domínio sobre as emoções, especialmente a ira, a ignorância, o desejo e as paixões desnecessárias. O cultivo do vazio leva ao desapego e é fundamental no processo Zen, conquistando-o, o ser não se prende as amarras do passado nem anseia pelo futuro, pois ambas as atitudes impedem a manifestação do presente e, sem a consciência do hoje não há a compreensão do passado nem a visão do futuro.

“… cada coisa tem um instante em que ela é,

e eu quero apossar-me do é da coisa…”

(Clarisse Lispector)



Fotos do workshop de Espada Tai Chi em
Vitória - E.Santo




















As quatro estações

         No decorrer   de milênios tivemos  grandes mestres taoístas, uns  que  já se foram, a exemplo do venerável mestre Liu Pai Lin, outros  que  ainda  se encontram entre nós como o querido mestre Liu  Chih  Ming.  Mas  quem  inspirou  estes  mestres  a  ponto de  atingirem uma compreensão tão elevada da vida e seus processos? Segundo  o  saudoso mestre Liu o verdadeiro mestre ou mestra do  Tai  Chi  é  a  natureza.  Através  da  contemplação da natureza os antigos mestres descobriram o movimento de pulsação que gerava, nutria e  desenvolvia  a vida no universo, desde sua base original no extremo vazio, de onde se originou a primeira manifestação, às suas  variações  primordiais  a  partir da alternância de yin e yang, tão  bem exemplificadas através do modelo do dia e da noite e seu desdobramento  nos  movimentos das quatro estações e suas fases intermediárias,  de  onde  se  perceberam  cinco  movimentos  que compunham o ciclo de nascimento, crescimento,amadurecimento, envelhecimento e morte.  A partir  deste  conhecimento os antigos mestres   desenvolveram    práticas    para    o    fortalecimento    e preservação  da energia  no  homem,  baseadas no modelo perfeito da natureza. Com isto podemos concluir que  a  prática do Tai Chi é anterior ao  homem,  a natureza segundo o  mestre  Liu pratica o Tai Chi   todos   os   dias  e  é  por isto  que consegue se renovar e atravessar os tempos. Iniciaremos a partir da estação atual, o inverno, algumas observações a respeito desta maravilhosa dinamica. 






















ESTAÇÃO INVERNO





          Por volta da metade do mês de julho os suaves ventos de outono vão se tornando mais frios e penetrantes anunciando a entrada da mais misteriosa e alquímica das estações, o inverno. Nesta estação toda a natureza busca o recolhimento, o espírito de tudo que se manifesta no reino do visível se oculta em segredo no reino do invisível. Os dias são mais curtos e as noites são mais longas, há predominância da lua e estrelas em contraste com a timidez solar na mecânica celeste.Em regiões mais extremas alguns animais hibernam, rios e lagos congelam, as árvores movimentam sua energia das extremidades para o tronco e, por fim, a concentram nas raízes, visando a sua preservação. As últimas folhas declinam ao solo se decompondo em meio à micro vida e aos elementos que as compuseram, numa concordância com princípio de coesão e unidade da vida, no retorno à origem


 

          Segundo o “ Huang Di Nei Jing “, texto médico com mais de dois mil anos fundamentado no Taoísmo, devemos: “ ...deitar cedo, levantar-se tarde. Conservar a vontade para preservar o pensamento. Evitar o frio, procurar o calor. Evitar a transpiração para não desordenar a energia yang conservada no interior. Agir assim é se conciliar com a energia do inverno, com o princípio do Tao para ajudar na conservação”.

          Segundo a medicina tradicional chinesa, dos cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água, o inverno é regido pelo elemento água que está associado à dinâmica energética dos canais dos rins e da bexiga. Assim como a água, o inverno tem ligação com as forças do inconsciente e seus subterrâneos e, por isto, dos sentimentos relaciona-se com o medo. Ao inverno associa-se a energia yin, de polaridade negativa, o feminino, o devocional, a fase de repouso que gera o movimento. Por isto o inverno antecede a primavera. Daí se compreende porque segundo a medicina tradicional chinesa, os rins guardam a energia ancestral, a energia de antes do nascimento, que determina o tempo de vida que ser traz ao nascer, ou melhor, o potencial para isto. ao contrário da energia do ar e dos alimentos, a energia ancestral não é renovável, uma vez perdida não se recupera, desta forma para termos uma vida longa e saudável dependemos do uso adequado desta energia. Por isto segundo o mestre Liu Pai Lin:

“ Não devemos ter medo de envelhecer e sim de que nossos rins envelheçam “



 

          Das cinco fases da vida: nascimento, crescimento, amadurecimento, envelhecimento  e morte, o inverno representa a morte, mas não uma morte definitiva e sim uma morte simbólica que traz a renovação, do nível mais profundo para o superficial, como a energia conservada nas raízes que novamente retorna ao tronco, galhos, novas folhas e flores na manifestação de uma nova e exuberante primavera, que não teria força suficiente para explodir em formas, cores e movimento, sem a energia concentrada no inverno, com seu poder secreto, o poder do oculto no que é aparente, o poder do invisível sobre o visível, a força capaz de por estátuas em movimento, de fazer emergir a semente que repousa, aparentemente inerte no íntimo da terra.




          Estes são os atributos do inverno, que das virtudes lhe corresponde a sabedoria. De acordo com eles podemos compreender a mensagem que nos reserva esta misteriosa estação, mágica e alquímica, que nos convida a moderação no uso de nossa energia vital, introspecção e reflexão  que nos levará a abandonar os velhos e gastos padrões e concentrar a energia em nosso íntimo para o florescimento  vigoroso de novas formas de atuar em nossos eventos, acompanhando os novos ritmos que impulsionam a vida numa constante mutação, com suas mortes simbólicas e essenciais em prol da renovção, do renascimento.

          Com isto podemos concluir com grande alento que, por mais rigoroso, frio e nebuloso que possa ser nosso inverno particular, nós sempre teremos encerrada em nós a possibilidade de uma nova primavera, com toda sua corte luminosa.



Em concordãncia com o estudo da estação segue o texto sobre o elemento correspondente na medicina tradicional chinesa 

Água – Yin por dentro e por fora, este é o mais misterioso dos elementos, no eixo vertical tem o movimento descendente, buscando a terra, relacionado ao norte e atrás. Das fases da vida está associado à morte, ao mesmo tempo em que ao meio líquido é associado o início da vida, a origem da vida, o retorno à origem ancestral, à semente. Das estações corresponde ao não menos misterioso inverno. Por isto está associado ao frio e ao recolhimento, pois é quando na natureza, nas árvores, as folhas caem enquanto a energia desce da copa para o tronco e retorna às raízes para a preservação da energia vital. No ser humano este deve ser o mesmo cuidado a ser tomado para que não se dissipe tão rapidamente a energia vital. A água está associada ao medo e ao inconsciente, sua cor é o azul ou preto. Seus órgãos correspondentes são os rins e a bexiga, sendo que os rins guardam a energia pré natal ou ancestral, que determina o nosso tempo de vida, ou melhor, o potencial para isto. Dependendo do uso que faremos desta energia ela poderá se manter ou se dispersar mais rapidamente, uma vez que, ao contrário da energia do ar e dos alimentos não é renovável, tendo sido esgotada não se repõe encurtando o tempo de vida. Por isto a água tanto representa a vida quanto a morte. De acordo com isto o mestre Liu Pai Lin dizia que não devemos ter medo de envelhecer, mas sim de que os nossos rins envelheçam. À água está relacionada à sabedoria não só pelo fato de moldar-se as mais diferentes conformações,  e por estar associada à ancestralidade, como também pelo fato de no seu ciclo experimentar diferentes condições (líquido, sólido e gasoso) que fazem com que ela sublime sua energia através de diferentes experiências e beneficie a terra através da chuva, assim como o mestre beneficia aos homens com o alimento do espírito. Sua fase como rio que se enche com as chuvas, nos remete ao discípulo quando percorre seu aprendizado acumulando conhecimento, atingindo sua maturidade e sabedoria ao atingir e se tornar uno com o oceano que representa o grande mestre. Quase 80% do nosso corpo é constituído por líquidos, por isto a água tem relação com os líquidos internos como o sangue, linfa, lágrimas, saliva, suor, sêmen entre outros. Quando a água esta em equilíbrio há uma tendência de equilíbrio geral, pois esta representa a própria vitalidade, através do meio líquido que alimenta a todos os sistemas, temos vigor sexual, segurança, percepção, intuição. Quando em desequilíbrio pode haver insegurança, falta de auto-estima, letargia, medo da vida e das pessoas, pressão arterial baixa, podem surgir impotência e frigidez, síndrome de pânico, etc. Seu som é o gemido.


                                                     Ronaldo José Fernandes

Professor de Tai Chi Chuan, Kung Fu, Espada Tai Chi, Pá Kuá, Espada Pá Kuá, Técnico em Reabilitação Geral, Massagista, Acupunturista. Discípulo direto dos mestres Liu Pai Lin e Liu Chih Ming. Tel. 42241433 cel. 95419493